Em comemoração aos 100 anos de Erechim o Caitá Supermercados em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo com o Arquivo Histórico Municipal, realizou o concurso Crônicas de Erechim. O principal objetivo do concurso foi resgatar histórias da Capital da Amizade, envolvendo moradores e simpatizantes do município, fomentando ainda mais nossa cultura, histórias e tradições.
Como resultado, recebemos inúmeras histórias que emocionaram e mostraram os encantos do município de Erechim. As crônicas ganhadoras foram das autoras Joemir Maria Camargo Rosset e Janaina Vargas Dutra.
Confira!
EMPREGADA DO CASTELO
Joemir Maria Camargo Rosset
Minha passagem pelo Castelinho da Praça da Bandeira é frequente e inevitável. Não só eu passo por ali, mas toda a população Erechinhense. O Castelo está localizado no coração de Erechim e, queira ou não, é passagem obrigatória de trabalhadores, estudantes, passeadores, etc. É inevitável também uma olhada e um elogio pela bela obra. Vamos aplaudir nossos antepassados pelas maravilhas que eles nos deixaram (Viva eles e todos que ajudaram a construir a Capital da Amizade).
Eu tinha oito anos quando fui levada até a Praça da Bandeira pela diretora Joane Sebben, do Grupo Escolar Sales, localizado onde hoje estão as Casas Populares e a Brigada Militar, para participar do Iº Concurso de Desenho Infantil, promovido pela Inspetoria do Ensino Municipal. Guardo entre meus pertences uma relíquia desse tempo, o diploma que recebi pelo excelente trabalho realizado, em 05 de outubro de 1966, assinado pela senhora Dilma, Inspetora Municipal, e pela diretora, Joane Sebben.
Não sei o que desenhei, pois passado meio século, a gente tem o direito de esquecer muita isa. Mas o diploma está guardado ainda com a moldura de um quadro na parede que meu pai fazia questão de pendurar na sala de todas as casas que morávamos.
Talvez meu amor pelo Castelo teve início nesse dia, quando me disseram: -Desenhe o que seus olhos estão vendo e seu coração sentindo!
De lá pra cá, esse amor só aumentou.
Já cursava o magistério quando conheci o Castelo por dentro. Morei lá com a família Diligente. Dona Lourdes não era rainha, mas a Delegada de Ensino da época, e seu Aldo não era rei, mas era Chefe da Comissão de Terras, cujo escritório era no Castelinho. Os filhos não eram príncipes nem princesas, mas enfim, a família era “real”.
Como em todos os castelos, aquelas paredes eram de sonhos. Às vezes bons e às vezes maus. Pesadelos de canseira por subir e descer aqueles degraus que nos levavam do porão até a torre, várias vezes ao dia.
Canseira pelos joelhos ralados de passar pano e cera no assoalho daqueles quartos, banheiros, salas e corredores enormes. Braços mortos de lavar vidros e esfregar calçadas.
Muitas empregadas passaram pelo Castelo: Maria Geni, Marlene, Rosi, Bela, Oralina, Salete, Julia e eu, entre elas. Cada uma com seus amores, suas dores e suas saudades.
Nos sonhos bons, ficou a última janela, na torre do Castelo de onde víamos a Praça da Bandeira. E ao baixar os olhos, muitas rosas coloridas num jardim cercado de ripas brancas.
Na memória, a impressão de um dia ter ouvido alguém dizer:
– Joga as tranças, Rapunzel!
RAÍZES DO SUL
Janaina Vargas Dutra
Inicio com o relato “tudo o que sou hoje é devido ao amor que meus pais me ensinaram a ter pelas nossas raízes, cultura, tradições e sentimentos bairristas pela nossa querida Erechim”.
Minha história começa muito antes do meu nascimento. Inicia com o encontro de amores de Leonel Rocha Dutra e Ana Maria Vargas Dutra. Ambos eram apaixonados pela miscigenação de culturas que aqui em Erechim imigraram desde a sua civilização. Não contentes em apenas habitar nossa cidade, juntos fundaram o único corpo de baile de dança Latina Americana da cidade até hoje, o famoso “Grupo Erechim de Tradições”, que existiu por volta de quinze anos e, como o nome já diz, perpetuando tudo de mais lindo e grandioso da nossa mistura de culturas e raças.
Juntos, foram se tornando desbravadores e ícones em nossa cidade (nunca reconhecidos), pois no caminhão de mudanças de meu pai é que embarcavam em suas maiores aventuras – viajavam por todo o Estado e até países com o grupo, em busca de mostrar o amor pelo que de mais lindo temos – nossas raízes. Tiveram oportunidade de participar de congressos no Uruguai e Argentina, onde propagaram o amor pela arte da dança e levaram para os quatro cantos o legado de nossa cidade “Erechim, a cidade dos povos” e a amizade da conhecida “Capital da Amizade”.
Eu, Janaina Vargas Dutra, tive a honra de nascer já com todos esses legados. Cresci sob essas influências, iniciei no mundo da dança com cinco anos e, aos dez anos, sob os olhares atentos e orgulhosos de meus pais, iniciei minha vida tradicionalista no Centro de Tradições Gaúchas – CTG. O amor que sempre tive por meus pais e sua história tão grande que fui estudar e me preparar para participar de concursos de prenda, para que assim como eles, eu pudesse também contribuir com a propagação da nossa cultura.
Obtive conquistas após tanto estudo, como 1ª Prenda Juvenil do CTG Sentinela da Querência; 2ª Prenda Juvenil da 19ª Região Tradicionalista; 1ª Prenda Juvenil da 19ª Região Tradicionalista; 1ª Prenda Adulta do CTG Sentinela da Querência.
Meus pais são minha fortaleza e base de cultura que sempre tive, mas a caminhada nem sempre foi fácil e cheia de flores. Eu perdi meu pai no dia da realização do nosso grande sonho: participar do Concurso Estadual de Prendas, no dia 24 de maio de 2007, data em que Erechim perdeu um grande amante da cidade e suas belezas. Nunca mais minhas lembranças me deixaram esquecer a tristeza desse dia, desse sonho realizado. Meu pai sempre dizia: “Essa minha raspa do tacho só me dá orgulho e vai ser prenda do Rio Grande do Sul.”
Não conseguimos, pai, mas após sentirmos a dor de não tê-lo mais aqui me incentivando, toda a família levantou a cabeça e seguiu a sonhar, a trilhar outro caminho com mais amor pela cultura que o senhor tanto cultuou e defendeu em vida.
Em morte, meu pai foi honrado através do convite para que eu fosse a Prenda da Frinape 2010. Eu honrei o nosso sonho, a tua memória e o teu amor deixados através de mim, e até hoje, continuo desbravando esse legado. Sou uma das pioneiras a estar frente a um CTG como mulher instrutora das invernadas. A força que sempre quis que eu tivesse, eu a honrei e estou conquistando o meu espaço em um trabalho, até então designado mais para homens. O que eu quero deixar para Erechim?
Aqui nasci, aqui cresci e, com o exemplo de meus pais, nossa história de amor por aquilo que mais temos de rico, nossas etnias e raízes, se propaga a cada dia, pois a cura de nossa sociedade é o amor à cultura. Erechim é o melhor lugar para se viver, por todas as pessoas que sonham, lutam, têm orgulho em nascer numa cidade cheia de histórias e encantos que só um amante bairrista consegue ver e sentir. Gratidão, Erechim, por me fazer tua filha e honrar tuas belezas e magias.